exposição "TranspareSSer"


TRANSPARESSER:
A violência dos véus

As transparências enganam. As aparências também.
Ao primeiro contato, pensei que as delicadas aquarelas de Juliana fossem a expressão de uma sensibilidade feminina, no sentido mais tradicional: flores, cores, amores de uma ingênua romântica.
Engano absoluto.
Aquarelas e poesias iam na embarcação da primeira viagem da artista em busca da transparência. Busca obstinada.
Na partida, um mar de possibilidades avistadas. Em seguida, novos horizontes, a partir das janelas e avarandados. Mais adiante, organzas e tecidos, utensílios para desnudar peles e camadas. Até chegar ao vidro, o vidro dos frascos de perfumes, antecipando o prazer dos cheiros.
O vidro transparente em toda sua ambivalência.
Deixar visível o outro lado, apontar-nos uma direção, mas também confundir-nos, até aprisionar-nos, como na experiência do labirinto envidraçado.
Não haveria em tal ambivalência uma metáfora? Ou um alerta de que a excessiva transparência pode levar à perdição?
E o que dizer do enigma do Grande Vidro, a noiva despida pelos seus celibatários de Duchamp?
Nas noivas: rendas, tules e véus cobrem e descobrem sonhos e promessas. Até o altar: consagração ou sacrifício? E o corpo ao engrandecer, rompendo as costuras e esgarçando os véus não iria em busca de uma salvação?
Leitmotiv da poética de Beth Moysés, as noivas, em Niki Saint Phalle, são esmagadas pelo vestido, montam no cavalo, deitam sob árvore ou pegam a metralhadora. Juliana, com arco e flecha de verdade, invoca as origens e joga a transpareSSência.
Fusão de transparecer e ser é adoção por difícil escolha de um modus vivendi que assume a ambiguidade.
TranspareSSer implica num jogo de equilíbrio entre o esconder e o revelar.
As transparências enganam. As aparências também.
Aos que odeiam e aos que amam.

Sonia Marques.

Comentários